segunda-feira, 20 de abril de 2009

Letícia Parente


Biografia

Nasceu em Salvador, em 1930, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1991. Formou-se e doutorou-se em química, área a que se dedicou profissionalmente e a que deu importantes contribuições. Estudou arte com Pedro Dominguez, Hilo Krugli e Anna Bella Geiger. Nos anos 70, participa das mais importantes mostras de videoarte brasileiras, tanto no Brasil como no exterior. Sua primeira individual aconteceu em 1976, no MAM/RJ, sob o título Medida. Participou do Projeto Vermelho, da Faap, São Paulo, com o objeto-instalação Constatação (1986); e do Projeto Arte Postal, na 16ª Bienal Internacional de São Paulo, 1981.

IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA
Num dos trabalhos mais perturbadores da primeira fase, a artista Letícia Parente bordou as palavras "Made in Brazil" sobre a própria planta dos pés, apontada para a câmera num big close-up. Trabalhos como o de Letícia Parente fazem eco com uma certa ala do vídeo norte-americano do mesmo período, representada por gente como Vito Acconci, Joan Jonas, Peter Campus, cuja obra consistiu - como observou na época Rosalind Krauss - em colocar o corpo do artista entre duas máquinas (a câmera e o monitor), de modo a produzir uma imagem instantânea, como a de um Narciso mirando-se no espelho.

fonte: http://www.cibercultura.org.br/tikiwiki/tiki-index.php?page=Let%C3%ADcia+Parente

O N-Imagem, Núcleo de Cultura e Tecnologia da Imagem da UFRJ, lança no dia 11 de abril um DVD e um catálogo que resgatam a obra de Letícia Parente, umas das mais importantes artistas Brasileiras. O evento de lançamento acontecerá dentro do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e terá um ciclo de palestras que discutirá o trabalho de Letícia em relação às questões do corpo, uma das características seminais de sua obra. Para falar do projeto, entrevistamos o professor e artista André Parente, que além de diretor do N-Imagem, também é o idealizador do projeto.


Como surgiu a idéia de resgatar a obra audiovisual de Letícia Parente e lançá-la em DVD?

Na verdade, o projeto é antigo, foi feito há quase dez anos, mas só encontrou resposta institucional recente (no caso, ele ganhou o edital de 2006 da Petrobras). Em todo caso, o momento do resgate coincidiu com a exposição do Paço das Artes (março de 2007) e de uma aumento de interesse pela obra da Letícia.

Percebe-se, principalmente nos trabalhos audiovisuais, uma relação de tensão entre o corpo da própria artista e a imagem. Essa tendência é comum à outros artistas da mesma época, tanto no Brasil como fora. Existe um diferencial no caso de Letícia Parente?

Sim, me parece que é uma tendência da vídeoarte internacional. Os vídeos do grupo da Letícia (formado por Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Sônia Andrade, Ivens Machado, Paulo Herkenhoff, Miriam Danowski e Ana Vitória Mussi)
eram em geral realizados em um único plano-seqüência, gestos cotidianos repetidos de forma ritualística – subir e descer escadas, assinar o nome, maquiar-se, enfeitar-se, comer, brincar de telefone-sem-fio – são encenados de modo a produzir uma imagem do corpo. Os vídeos de Letícia são como preparações e tarefas por meio dos quais o corpo revela os modelos de subjetividade que o aprisiona. A imagem é uma inflexão, uma dobra, mas a dobra passa pelas atitudes do corpo, pelo “mergulho no corpo” (termo de Oiticica que retomamos como expressão da reversão estética, a cura da obsessão formal modernista). Para alguns críticos, os trabalhos de Letícia e do seu grupo são como que registros de performances. Isto porque os aspectos técnicos da filmagem e da montagem são relegados a um segundo plano. O que importa é que a câmera e a filmagem agem sobre os corpos e personagens como um catalizador. Entretanto, hoje, fica cada vez mais claro, que os trabalhos de videoarte diferem dos outros em parte por uma espécie de secura,de quase ausência de decoupagem e de montagem.

Letícia foi pioneira no Brasil, ao lado de Rafael França e outros a trazer novos suportes tecnológicos para sua obra. Como se deu isso?

Rafael França é uma das maiores expressões do vídeo brasileiro. Adoro ele, é um dos meus preferidos. Mas a obra dele nada tem a ver com a inovação de suportes. No caso da Letícia e de seu grupo sim. Mas a questão do primeirismo não é o que importa, é uma questão menor. O que importa é a qualidade e o interesse de uma obra, não o fato de ter usado um meio primeiro que os outros. No entanto, muita gente pensa assim, e não é por outra razão que quando perguntamos o que um artista está fazendo,muitas vezes ele responde, de forma completamente “naif”: estou trabalhando com realidade virtual. E daí ? E se fosse com pintura ? Se pensarmos assim, viva McLuhan: o meio é mensagem. Porque não acrescentar: é tudo !

Alguns vídeos de Letícia, como por exemplo In, onde a artista se denpendura em um cabide dentro do armário, podem ser remetidos á condição de submissão feminina. Como ela lidava com a questão do feminino na sua obra?

Sim, quase todos os vídeos de Letícia são tentativa de falar sobre a condição da mulher, por um lado, daí a questão das tarefas domésticas (guardar roupa, passar roupa, costurar, etc) e da coisificação da do indivíduo na sociedade de consumo, o indivíduo se torna objeto ao se colocar como consumidor: consumidor consumido! Mas há muitas outras questões: a opressão do cotidiano,onde as tarefas são infinitas, o intolerável de uma sociedade sob o julgo da ditadura, etc. Quando vemos aquele pé ser costurado, passamos de uma imagem a outra, de uma condição a outra: todos os intoleráveis da sociedade explodem em nossa cara. Penso que essa é uma das marcas do vídeo dela.

fonte: http://blog.premiosergiomotta.org.br/2008/04/09/entrevista-com-andre-parente-a-inquietude-da-arte-de-leticia-parente/

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