quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sol Casal

http://solcasal.blogspot.com/

A série é composta por 11 fotografias dispostas em sequência que registram a performance realizada por mim.

A imagem da barriga foi impressa em tecido e esticada no bastidor, realizado um corte na região do umbigo a saída do corpo/carne/imagem pelo corpo/imagem tem inicio.


ESPERANDO ENTREVISTA COM A MOÇA!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Letícia Parente


Biografia

Nasceu em Salvador, em 1930, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1991. Formou-se e doutorou-se em química, área a que se dedicou profissionalmente e a que deu importantes contribuições. Estudou arte com Pedro Dominguez, Hilo Krugli e Anna Bella Geiger. Nos anos 70, participa das mais importantes mostras de videoarte brasileiras, tanto no Brasil como no exterior. Sua primeira individual aconteceu em 1976, no MAM/RJ, sob o título Medida. Participou do Projeto Vermelho, da Faap, São Paulo, com o objeto-instalação Constatação (1986); e do Projeto Arte Postal, na 16ª Bienal Internacional de São Paulo, 1981.

IMPORTÂNCIA DE SUA OBRA
Num dos trabalhos mais perturbadores da primeira fase, a artista Letícia Parente bordou as palavras "Made in Brazil" sobre a própria planta dos pés, apontada para a câmera num big close-up. Trabalhos como o de Letícia Parente fazem eco com uma certa ala do vídeo norte-americano do mesmo período, representada por gente como Vito Acconci, Joan Jonas, Peter Campus, cuja obra consistiu - como observou na época Rosalind Krauss - em colocar o corpo do artista entre duas máquinas (a câmera e o monitor), de modo a produzir uma imagem instantânea, como a de um Narciso mirando-se no espelho.

fonte: http://www.cibercultura.org.br/tikiwiki/tiki-index.php?page=Let%C3%ADcia+Parente

O N-Imagem, Núcleo de Cultura e Tecnologia da Imagem da UFRJ, lança no dia 11 de abril um DVD e um catálogo que resgatam a obra de Letícia Parente, umas das mais importantes artistas Brasileiras. O evento de lançamento acontecerá dentro do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e terá um ciclo de palestras que discutirá o trabalho de Letícia em relação às questões do corpo, uma das características seminais de sua obra. Para falar do projeto, entrevistamos o professor e artista André Parente, que além de diretor do N-Imagem, também é o idealizador do projeto.


Como surgiu a idéia de resgatar a obra audiovisual de Letícia Parente e lançá-la em DVD?

Na verdade, o projeto é antigo, foi feito há quase dez anos, mas só encontrou resposta institucional recente (no caso, ele ganhou o edital de 2006 da Petrobras). Em todo caso, o momento do resgate coincidiu com a exposição do Paço das Artes (março de 2007) e de uma aumento de interesse pela obra da Letícia.

Percebe-se, principalmente nos trabalhos audiovisuais, uma relação de tensão entre o corpo da própria artista e a imagem. Essa tendência é comum à outros artistas da mesma época, tanto no Brasil como fora. Existe um diferencial no caso de Letícia Parente?

Sim, me parece que é uma tendência da vídeoarte internacional. Os vídeos do grupo da Letícia (formado por Anna Bella Geiger, Fernando Cocchiarale, Sônia Andrade, Ivens Machado, Paulo Herkenhoff, Miriam Danowski e Ana Vitória Mussi)
eram em geral realizados em um único plano-seqüência, gestos cotidianos repetidos de forma ritualística – subir e descer escadas, assinar o nome, maquiar-se, enfeitar-se, comer, brincar de telefone-sem-fio – são encenados de modo a produzir uma imagem do corpo. Os vídeos de Letícia são como preparações e tarefas por meio dos quais o corpo revela os modelos de subjetividade que o aprisiona. A imagem é uma inflexão, uma dobra, mas a dobra passa pelas atitudes do corpo, pelo “mergulho no corpo” (termo de Oiticica que retomamos como expressão da reversão estética, a cura da obsessão formal modernista). Para alguns críticos, os trabalhos de Letícia e do seu grupo são como que registros de performances. Isto porque os aspectos técnicos da filmagem e da montagem são relegados a um segundo plano. O que importa é que a câmera e a filmagem agem sobre os corpos e personagens como um catalizador. Entretanto, hoje, fica cada vez mais claro, que os trabalhos de videoarte diferem dos outros em parte por uma espécie de secura,de quase ausência de decoupagem e de montagem.

Letícia foi pioneira no Brasil, ao lado de Rafael França e outros a trazer novos suportes tecnológicos para sua obra. Como se deu isso?

Rafael França é uma das maiores expressões do vídeo brasileiro. Adoro ele, é um dos meus preferidos. Mas a obra dele nada tem a ver com a inovação de suportes. No caso da Letícia e de seu grupo sim. Mas a questão do primeirismo não é o que importa, é uma questão menor. O que importa é a qualidade e o interesse de uma obra, não o fato de ter usado um meio primeiro que os outros. No entanto, muita gente pensa assim, e não é por outra razão que quando perguntamos o que um artista está fazendo,muitas vezes ele responde, de forma completamente “naif”: estou trabalhando com realidade virtual. E daí ? E se fosse com pintura ? Se pensarmos assim, viva McLuhan: o meio é mensagem. Porque não acrescentar: é tudo !

Alguns vídeos de Letícia, como por exemplo In, onde a artista se denpendura em um cabide dentro do armário, podem ser remetidos á condição de submissão feminina. Como ela lidava com a questão do feminino na sua obra?

Sim, quase todos os vídeos de Letícia são tentativa de falar sobre a condição da mulher, por um lado, daí a questão das tarefas domésticas (guardar roupa, passar roupa, costurar, etc) e da coisificação da do indivíduo na sociedade de consumo, o indivíduo se torna objeto ao se colocar como consumidor: consumidor consumido! Mas há muitas outras questões: a opressão do cotidiano,onde as tarefas são infinitas, o intolerável de uma sociedade sob o julgo da ditadura, etc. Quando vemos aquele pé ser costurado, passamos de uma imagem a outra, de uma condição a outra: todos os intoleráveis da sociedade explodem em nossa cara. Penso que essa é uma das marcas do vídeo dela.

fonte: http://blog.premiosergiomotta.org.br/2008/04/09/entrevista-com-andre-parente-a-inquietude-da-arte-de-leticia-parente/

Pipilotti Rist


- trabalha com sua feminilidade desde os anos 90.

-liga extravagância musical das imagens de media com questões básicas sobre sexualidade.



Esta jovem artista de origem Suiça, desenvolve o seu trabalho na área dos media e vídeo arte experimental. Com ajuda de efeitos especiais, distorções picturais e efeitos estéticos retirados dos vídeo-clips, Rist articula a linguagem do visual do “pensar em imagens” (Babias), centra os seus temas no amor, morte, violência, Eros, nascimento e na experiência do quotidiano. Uma das características marcantes dos seus trabalhos, são as formas de expressão feminina, tais como o maquilhar-se, o vestir-se. Rist trabalha a partir destes clichés femininos, transformando-os em efeitos alucinantes.
Evitando conscientemente a linguagem visual dos mass media, explora a técnica da imagem cortada rapidamente, passando de imagens claras e brilhantes para imagens negras que emanam dos monitores e nos remetem para a ideia de pessoas inconscientes.
Pipilotti Rist prefere as vídeo instalações “por serem um espaço polivalente, onde é possível misturar a pintura, tecnologia, movimento, poesia, vida, morte, sexualidade e amizade”.

fonte: http://www.serralves.pt/actividades/detalhes.php?id=794





quinta-feira, 26 de março de 2009

Paula Krause

Paula Krause é mestre em Poéticas Visuais pelo PPGAVI da UFRGS (2005), onde desenvolveu uma pesquisa em performance, fotografia e vídeo. Destacam-se em sua trajetória: Programa Itaú Cultural Artes Visuais 2001/2002; Residência pelo Programa UNESCO-ASCHBERG, Ateliers Forwinds, Aureille, França; 2003; Participação no espetáculo "Os humores do poeta", de Luciana Paludo, durante a Caravana Funarte 2007.

Trabalho no OPEN STUDIO:
Falling é uma ação que a artista vem realizando em situações específicas desde 2003, quando participou de uma residência de artistas no árido verão da Provença, no Ateliers Fourwinds, Aureille. Para esta edição, Paula Krause propõe uma revisão da ação através da projeção das imagens captadas em 2003 e uma ação sobreposta à projeção.
http://paulakrause.multiply.com

fonte: http://desdobramentos.org/content/view/25/57/

SITE: http://paulakrause.multiply.com/

http://paulakrause.spaces.live.com/


Marina Abramovic


"Marina Abramovic, nascida em 1946 em Belgrado, na Iugoslávia, é sem dúvida uma das artistas seminais de nosso tempo. Desde o início de sua carreira na iugoslávia no início dos anos 70, quando estudou na Academia de Belas Artes em Belgrado, Abramovic tem sido a pioneira no uso da performance como uma forma de arte visual. O corpo sempre foi o seu tema e sua mídia. Explorando os limites físicos e mentais de seu ser, ela suportou a dor, a exaustão e o perigona busca da transformação emocional e espiritual. Abramovic preocupa-se com a criação de trabalhos que ritualizem as ações simples da visa cotidiana como deitar, sentar, sonhar e pensar; com efeito, a manifestação de um único estado mental. Como membro vital de uma geração de artistas pioneiros de performance que inclui Bruce naumam, Vito Acconci, e Chris Burden, Abramovic criou algumas das mais históricas peças iniciais e é a única que ainda faz importantes trabalhosde longa duração.(...)"
extraído do catálogo da exposição "Balkan Erotic Epic" em exibição de 4 de outubro a 5 de novembro de 2006, no SESC Pinheiros. Não perca por nada neste mundo a exposição!

fonte: http://marcelinhoamorim.multiply.com/video/item/2

“Deveríamos redescobrir o poder do erotismo e dos órgãos sexuais”, diz a artista Marina Abramovic

A aposta nos impulsos irracionais foi um dos aspectos determinantes de várias obras da pioneira das performances Marina Abramovic. Ao longo de sua carreira, a artista desafiou as capacidades físicas e mentais do corpo, colocando sua integridade em risco com atos de violência calculada. Sob o impacto das guerras na ex-Iugoslávia, a artista voltou-se na última década à reflexão sobre os conceitos de nacionalidade, territorialidade e história da região onde nasceu. Os sete vídeos de “Balkan Erotic Epic”, expostos no Sesc Pinheiros, em São Paulo, evocam o poder de cura humana, de intervenção na natureza e de comunicação com Deus atribuído à sexualidade em rituais descobertos por ela em manuscritos dos séculos XIV a XIX. A mostra em cartaz de outubro a novembro foi organizada pela Art of the World e Hangar Biccoca, com a curadoria de Adelina von Fürstenberg.

Os vídeos mostram a reencenação das antigas práticas eróticas. Homens com trajes tradicionais exibindo o pênis ereto ou copulando com a terra. Mulheres massageando os seios enquanto contemplam o céu ou encharcadas pela chuva, cobertas de lama, expondo a vagina para a terra. São situações de exposição e busca de amparo por meio do prazer. A conquista da soberania do sujeito torna-se um exercício de dimensão lírica e aberta aos relacionamentos com o outro e a natureza. Leia, a seguir, a entrevista que Marina Abramović, 60, concedeu a Trópico.

*


Quando pensamos nos significados da palavra épico, geralmente ficamos atados à idéia de um relato que envolve personagens heróicos e violência. Mas em seu trabalho é o erotismo que emerge com maior destaque. Qual é seu entendimento dessa relação?

Marina Abramović: A palavra épico carrega, certamente, um significado bastante tradicional. Mas ela também se refere a lendas e maneiras complexas de contar o passado. A série “Balkan Erotic Epic” elege o erotismo como tema, dispensando as lutas e os discursos impregnados de fatos históricos. Senti-me atraída por essa idéia porque em nossa cultura consideramos apenas um tipo de erotismo, ligado à pornografia e à banalidade. Sociedades como a brasileira, italiana e mexicana estão repletas disso. Na Itália não é necessário ver filmes eróticos, basta assistir à previsão do tempo na TV. Neles, as mulheres aparecem vestidas de uma maneira que as erotiza -com roupas curtas que as fazem exibir os seios. Há sempre essa vulgarização e caricatura do que possa ser o erótico.


O que você propõe em lugar disso?

Marina: Nos Bálcãs, antes do cristianismo, do comunismo e da democracia, em uma época bem distante, havia uma série de antigas tradições que de algum modo continuam vigentes em pequenos vilarejos de áreas isoladas da ex-Iugoslávia. Nelas, o erotismo era visto de um modo completamente distinto. O termo não tinha o mesmo sentido de hoje, já que os órgãos sexuais eram vistos como ferramentas para vários objetivos. Poderiam servir como um canal de contato com a energia divina e cósmica. Eram um meio de comunicação com os deuses, de depuração do mal e de cura.

Nunca vi nenhuma imagem relacionada a eles, porque não existem registros visuais disso. Há apenas contos e fábulas que circulam entre as pessoas e algumas práticas preservadas em áreas remotas. Usei essa informação toda e fiz minha própria versão do que pode ser o épico erótico balcânico, utilizando a linguagem contemporânea do vídeo para gravar a reencenação desses rituais.


Essa espécie de rituais pode ser compreendida hoje?

Marina: Todas as culturas apresentam algum exemplo delas. Na África, é famosa a tradição das mulheres que devem lançar seu sangue na terra em determinadas circunstâncias. Já no Brasil, temos o candomblé.


O que você tenta sugerir com o erotismo?

Marina: Mostro explicitamente falos e vaginas, mas não como uma revista pornográfica, e sim como um estímulo para que se reflita sobre isso de outra maneira. Em algumas religiões da Índia, o erotismo ainda está ligado à espiritualidade. Na cultura ocidental, porém, perdemos completamente isso. Um dos meus vídeos representa o ritual em que as mulheres de vários vilarejos, jovens e velhas, costumavam levantar as saias desesperadas, para mostrar as suas genitálias e tentar fazer parar a tempestade, antes que ela inundasse e arruinasse as plantações.

Outra obra importante é a que exibe uma fileira de homens com o pênis ereto, enquanto uma mulher canta. Não costumamos ver o órgão masculino ereto e estático nos filmes, ele sempre está envolvido no ato sexual ou escondido. Quando o mostramos desse modo, transformamos tudo e as pessoas começam a pensar sobre o tipo de energia que o pênis simboliza. Força masculina que pode levar à guerra e à violência, mas também ao amor e à ternura. É algo que podemos modificar e empregar de maneiras distintas, especialmente em afirmativas nacionalistas, representando a dignidade e o orgulho da nação. A canção no vídeo fala de guerra e dá outro significado para a imagem.


Dá para imaginar que foi difícil conseguir filmar esses trabalhos. Como foi a seleção de elenco?

Marina: Para produzir esses vídeos levei dois anos para encontrar as pessoas certas, uma vez que não usei atores. Eram todos moradores da região de Belgrado. O making of desse trabalho é hilário. Foi um inferno explicar ao elenco como deveria representar esses rituais. Mas não só isso, como também conseguir que o grupo acreditasse realmente no que estava fazendo. No começo, as mulheres do vídeo da chuva pareciam apenas estar correndo de um lado para o outro de modo ridículo. Só mais tarde a cena atingiu um aspecto verdadeiro. Algumas mulheres selecionadas conheciam essas histórias que haviam ouvido das avós. Especialmente as mais velhas. Mas para elas também não era fácil exibir a vagina. Então, conversei com elas e tive que mostrar como deveria ser feito. A comunicação foi importante para que eu estabelecesse a confiança. Em outras cenas, sou eu mesma que atuo.


O que você pensa sobre o valor sagrado atribuído a vida?

Marina: Os seguidores da religião sufista têm um entendimento interessante sobre isso. Eles dizem que a vida é um sono e a morte é o despertar. O contrário do que pensamos. No catolicismo e cristianismo em geral, sempre sentimos culpa por fazer algo e devemos cultuar alguém que está apartado de nossa realidade. Tenho bastante interesse pelo budismo tibetano, porque não parece uma religião, mas sim uma ciência da mente. Aprecio a idéia de que não necessitamos de nada para ser exaltado fora de nós mesmos, uma vez que já somos completos.

Somos o corpo e o universo ao mesmo tempo. Essa é uma das razões por que venho fazendo performances durante as últimas décadas: há muito para ser descoberto dentro de nós mesmos, para que entendamos como funciona todo o resto. Cada mineral ou substância do cosmos está presente no ser humano. Não necessitamos olhar para fora, mas sim para dentro. Não sou religiosa, porque para mim a religião é uma instituição, e não gosto de instituições. Acredito na verdade em energias e espírito.


Você falou sobre antigos rituais de cura e dos atuais problemas da sexualidade. Que papel os genitais podem ter no mundo de hoje?

Marina: Deveríamos voltar ao passado e redescobrir o poder do erotismo e dos nossos órgãos sexuais. Na filosofia tantra, vários exercícios utilizam o sexo para a conquista da iluminação. A energia sexual é a única que temos, não há nada além. É a responsável pela reprodução, que dá origem a uma nova vida. Podemos confiar em outra coisa, achar que a energia intelectual nos levará à espiritualidade. Mas a energia verdadeira é a sexual, embora não saibamos como utilizá-la. São raras vezes em que compreendemos bem do que estamos falando.

Esse problema se deve a nosso modo de vida, à nossa falta de tempo. Apesar de termos desenvolvido a tecnologia para estarmos menos ocupados, não temos tempo, não sentimos o ambiente e o magnetismo da terra, porque a cobrimos com concreto, mármore e carpetes. Estamos cada vez mais distantes da natureza e da nossa própria intuição. Creio que uma das funções da arte é apontar para outra direção. Mesmo que não consiga responder todas as questões, pelo menos fornece pistas e amplia a consciência.


Qual é a sua opinião sobre as restrições ao sexo como formas de controle político?

Marina: É a coisa mais monstruosa que temos! Creio que muitas guerras são baseadas não apenas em razões políticas, mas também em repressão sexual. Porque quando não há um uso saudável dessa energia, a sociedade se torna doentia. Mas o mundo não é preto e branco e o erótico está imerso em muitos fatores. Não digo que se as pessoas não fazem sexo, iniciam a guerra. Mas, com certeza, isso é uma parte do processo. Nos países muçulmanos, as limitações à energia sexual e à mulher são tão severas que conduzem a situações bastante nocivas.


As tradições do passado impunham ritos e regras ao erotismo. O sexo sem orientações, totalmente livre, não é arriscado também?

Marina: O excesso de qualquer coisa é perigoso. Uma taça de vinho está bem, mas beber três garrafas pode ser ruim. Se você faz sexo 20 vezes ao dia torna-se uma obsessão. É uma questão de saber a medida. Porque de outro modo chegamos a um desequilíbrio antinatural. Isso não quer dizer que tenhamos de ser monogâmicos ou poligâmicos. Porém cada um deve ter a liberdade de viver e satisfazer seu desejo de modo balanceado e com envolvimento emocional, pois não creio que se possa amar dez pessoas em uma mesma semana.

Além disso, temos que considerar o contexto geral, que não se limita a fazer sexo ou não, mas sim ao que praticamos como seres humanos. Necessitamos entender nossa própria energia e qual é a nossa finalidade neste mundo. Esse sempre foi o meu maior questionamento. O sexo faz parte desses propósitos, não é algo isolado.


O que deve ser feito então?

Marina: Minha idéia é de que todos necessitam “limpar a casa”, ou seja, purificar a si mesmos. Nos esquecemos de que o corpo é uma casa, onde costumamos enfiar muito lixo. Temos que nos esvaziar para que possamos receber. Se não, viveremos como lixeiras abarrotadas em que não se pode incluir nada. Essa limpeza evoca o ascetismo, doutrina em que as pessoas passam um tempo sem comer e sem falar, apenas bebem água e meditam. Carecemos da natureza mais do que em qualquer período anterior.

A vida urbana é uma armadilha. Todos são neuróticos, ninguém tem tempo. O Dalai Lama disse uma vez que não quer reencarnar mais. Ele pergunta a seus discípulos por que fazê-lo? Não há sentido, a Terra está rumando para um desastre terrível. Tantos ainda terão de morrer nas guerras para que a consciência da sociedade evolua do atual estado de paralisia e as pessoas entendam o mal que estão causando…


Em várias performances anteriores, você colocou em risco o seu próprio corpo. Gostaria de lhe perguntar sua opinião sobre a dor física e a dor mental.

Marina: A dor não é importante, mas sim o medo que sentimos dela. Porque o temor é inimigo óbvio do ego. Nosso medo é permanente porque somos temporários e vamos morrer. Então, temos de analisar e entender isso. Chegar o mais perto possível da morte para compreender melhor como ela é e nos livrarmos do medo da dor. Em uma performance, represento a dor, não a encontro por acaso. Quando a mostro ao público, é como se ele pudesse olhar em um espelho e ver que pode suportar o mesmo que eu consigo suportar. A questão mais relevante é que nunca vivemos no momento presente, sempre estamos pensando no passado ou no futuro. Mas o agora é mais importante, porque é o único tempo seguro. O passado já foi e o futuro ainda não aconteceu. Em uma performance, é preciso que se tomem atitudes extremamente arriscadas para concentrar a atenção no presente. Um instante em que eu e o público realmente nos vemos, nos comunicamos e elevamos o espírito.

Existem muitas performances ruins, que não surtem resultados, embora os espectadores sintam o medo, a insegurança ou a sedução. Se você tem a disposição de executar algo tão ousado, então o tempo pára. Costumo realizar performances longas e essa dilatação do tempo está incluída. Não quero que o público passe um momento comigo observando uma apresentação. Desejo que se esqueçam do tempo, que estejam em um espaço atemporal. Alguns pensam que performance é entretenimento, mas não é. A verdadeira performance é um inferno, tanto para o artista quanto para quem assiste.

Publicado em 4/11/2006

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Daniel Hora
É jornalista.
fonte: http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2795,1.shl

ynne Cook: Como surgiu esta obra?

Marina Abramovic: Pensando em diferentes maneiras de atualizar material antigo e em como apresentar este material também de diferentes maneiras, descobri que havia muitas obras que tinham a ver com a minha cabeça. Ao editá-las, acabei chegando a uma versão moderna da Galeria de Retratos – exceto pelo fato de que, enquanto uma galeria de retratos tradicionalmente reúne um acervo de pinturas, a minha é eletrônica. A primeira vez que usei vídeo foi depois que deixei a Iugoslávia, com Artist Must Be Beautiful [O artista deve ser belo] (1975), cujo foco é minha cabeça. Daí para a frente, de alguma forma sempre estive me concentrando em diferentes partes do meu corpo: estômago, braços ou pernas… Quando comecei a editar essas obras, descobri que mostravam uma versão da minha vida: não apenas do desenvolvimento de minhas performances mas também do envelhecimento da artista na trajetória de trinta anos. Tenho duas obras em andamento: Video Portrait Gallery [Galeria de retratos em vídeo] e The Biography [A biografia], que comecei em 1987 depois de caminhar com Ulay ao longo da Grande Muralha da China. Continuo a editá-las a cada quatro ou cinco anos, à medida que coisas diferentes acontecem na minha vida.

Lynne Cook: Quem conhece seu trabalho sabe que cada monitor em Video Portrait Gallery serve, em parte, de aide-mémoire, relembrando a performance original mostrada aqui.

Marina Abramovic: Toda vez que olho para obras das décadas de 1970 e 1980 nas exposições de hoje elas me parecem muito tristes. Não é justo que a nova tecnologia tenha uma aparência tão melhor, mais bonita e mais atual: as obras antigas de alguma forma ainda perdem, mesmo que as idéias sejam dez vezes melhores. A minha grande pergunta é: será que o artista tem o direito de atualizar o material do seu passado, colocando-o em um contexto no qual talvez venha a ter uma nova vida?

Lynne Cook: Você incluiu cenas de Cleaning the Mirror [Limpando o espelho] (1995), em que lava ossos de um esqueleto. Pode-se perceber que o excerto que você mostra é a cabeça do esqueleto, e não a sua. Esse crânio fala ao futuro, na vida após a morte…

Marina Abramovic: Exatamente. Mandei minhas medidas para um especialista de uma faculdade de medicina na Alemanha, onde fazem esqueletos. Mesmo que não sejam ossos reais, são, metaforicamente, meu corpo.

Lynne Cook: Você parece pensar muito sobre a morte ultimamente.

Marina Abramovic: Minha mãe e minha tia morreram há exatamente um ano; assim como alguns amigos. Embora seja muito importante para mim, não penso sobre a morte em si, apenas sobre os horrores do funeral. Acho que se deve indicar como queremos ser vistos, eu quero ter controle sobre esse aspecto. Os sofistas diriam que a vida é um sonho, e que a morte é o acordar, mas o percurso entre as duas é muito importante. Como artistas, temos de saber não apenas como devemos viver, mas quando devemos parar de trabalhar e como morrer. Às vezes entramos em pânico porque não estamos produzindo. Talvez haja um momento na vida em que não se deve fazer nada.

Lynne Cook: Embora a maioria dos profissionais – como juízes e cientistas – se aposente quando atinge certa idade, o modelo ideal que culturalmente temos dos artistas é que quando mais velhos experimentam uma explosão final de criatividade – como Beethoven ou Monet. Parece pouco digno de um artista simplesmente decidir se aposentar aos 65 anos.

Marina Abramovic: É uma contradição tão grande. Quaisquer que sejam suas circunstâncias pessoais, a obra do artista tem de conseguir elevar o espírito.

Lynne Cook
: Hoje, a imagem do artista como celebridade é ubíqua. Ao criar este auto-retrato ampliado você está deliberadamente brincando com essa expectativa?

Marina Abramovic: Minha geração nunca pensou nesse tipo de coisa: a idéia do artista como ícone começou na década de 1980. Ainda que eu nunca tenha me envolvido nisso antes, é a base para toda a idéia da Video Portrait Gallery e para a sua continuação.


Lynne Cooke é curadora do Dia Art Foundation desde 1991. Ela recentemente se tornou curadora-chefe do Reina Sofia em Madri.

http://www.28bienalsaopaulo.org.br/participante/marina-abramovic

http://www.ubu.com/film/coulibeuf.html


Ela fala: "Art must be beautiful, artists must be beautiful"